NAíMA KEPES AYUB
( Brasil – RIO GRANDE DO SUL )
Naíma Kepes Ayub nasceu e vive em Porto Alegre, RS. Desde muito cedo não resiste a uma folha em branco; escrever é quase como respirar.
Professora de Filosofia, Pedagoga e Orientadora Educacional. Define-se como uma “eterna estudante. Muito jovem, plenos anos sessenta, já participava de movimentos estudantis, atenta aos acontecimentos sociais e políticos. Mais tarde, o engajamento ao movimento sindical e associativista foi uma uma continuidade natural. Esparramar palavras no papel é um exercício sutil, mínimo desse imperativo: que o mundo fique mais bonito e mais humano. Suas viagens têm sido oportunidades de captar outras paisagens e culturas. Menos um passeio, muito mais uma pesquisa: ânsia de ver mais.
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BERNY, Rossyr, org. Poetas pela Paz e Justiça Social. Coletânea Literária. Vol. II. Porto Alegre: Alcance, 2010. 208 p. ISBN 978-85-7592-098-5
Ex. biblioteca de Antonio Miranda – doação do amigo (livreiro) Brito – DF. No. 10 249
Importante: existem mais poemas do que os apresentamos aqui, neste livro tão bem apresentado, vale a pena conferir...
Exemplar da biblioteca de ANTONIO MIRANDA.
Assalto
Chego lépida e faceira
como se fosse colegial
afinal, é sexta-feira
tem o fim de semana e tal
Paro frente ao prédio
espero o portão levantar
mas eis que um assédio
começa a se esboçar
Um vulto logo aparece
mais que de repente
ainda que me apresse
o perigo é iminente
Tinha dois metros de altura
era feio de dar dó
se me pega essa criatura
apenas me reduz a pó
Queria pão o indigente
não queria matar ninguém
mas o que vem logo à mente
é assaltos, mão armada, refém
Como ser solidário
com o que temos no Planalto?
De lá vem o noticiário
todo dia um novo assalto!
Campo
O andar de uma carroça
faz o aru comovente
começa o dia na roça
logo ao sul nascente
Um sonolento riacho
de água cristalina
vai correnteza abaixo
em longo véu de neblina
Um burrinho seguia
pela estrada vagaroso
sol quente ao meio dia
desamparado, manhoso
O vento ano milharal
num doce entardecer
a figueira do quintal
anuncia que vai chover
Vacas de infinita melancolia
ruminam seu destino
a relva se encolhia
sob um sol vespertino
Anoitece mansamente
centenas de vaga-lumes
silêncio de antigamente
povoado de queixumes
Rio Grande do Sul
Desculpe a falta de jeito
mas trago no meu peito
toneladas de emoção
por ter nascido neste chão.
Sou da terra do Minuano
vento forte e cigano
que tudo leva para o caminho.
Sou da terra do bom vinho
e também deste mar bravio,
sou de onde faz frio
e, perdão pelo orgulho,
mas em todo mês de julho
cada brasileiro deve
se deliciar em nossa neve.
Quem não gosta de mate amargo
do povo de sorriso largo
da mulher, que além de bonita,
se reconhece em Anita?
E quem, acaso, não é chegado
a um passeio por Gramado?
Lembro o verde daqueles matos
em volta da Lagoa dos Patos;
quem o gosto doce da pitanga
da bergamota e da moranga;
e o que mais me amarro
é na casa do joão-e-barro.
Nem a neblina tampa
toda a beleza do meu pampa.
E, nesta fala que se encerra,
os Campos de Cima da Serra
que a todos nós pertence.
Sou do sul,
tenho alma rio-grandense.
Bordini do velho Coronel
Na Bordini do velho Coronel
de bem-te-vi e sabiás
tem colorido a granel
e árvore de flor lilás
Muitas e doces heranças
dos antigos casarões
o vento ensaia danças
nos galhos dos chorões
Rua de tantas ladeiras
e das mocinhas casadouras
em tardes bem faceiras
bordados de lantejoulas
Era jardim que florescia
eram lampiões e saraus...
A noite caindo fria
no mármores dos degraus
A Bordini do velho Coronel,
esquinas antes tão mansas
passa o tempo feito carrossel
dourado baú de lembranças...
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Página publicada em maio de 2025.
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